Há sorte


num canto de parede?

Outros carnavais
Os pés de urucum davam para o terreiro da casa.
Em cachos, aqueles frutos estranhos pareciam espinhar.

Em instantes, o quintal virava aldeia,
com índios, de cara pintada e fantasia garantida.

Lisbeth Lima, Vasto, 2010.

Amarela,


amarelinha.

Perfume
Flores soltas do meu jardim
vivem dentro de cadernos,
em meio a folhas,
secas.

Lisbeth Lima, Vasto, 2010.

Um lembrete...


no caminho.

Poeta
Conhece as plantas,
conhece o mar,
conhece o verbo.

Quando junta as três coisas,
planta mar no céu
ou em vasos de bonsai.

Lisbeth Lima, Vasto, 2010.

Exposição de ursos


porque é domingo!

Desculpa
Era só a falta do gesto.
Era só a falta de jeito.
Era só a falta do riso,
aquele que sobrara num tempo perdido,
esquecido pelo hoje que rotina.

Lisbeth Lima, Vasto, 2010.

De pedra...


o sorriso.

Acari
A matriz de Acari
é cem anos mais velha que eu.

Pedaço de céu construído com tijolos.

Abriga nossos infernos, também centenários,
nos dias de missa.

Lisbeth Lima, Vasto, 2010.

Escada


florida.

Saldo
Escolha difícil que a ti fizeram:
não tiveste direito nem a um beijo de despedida.

Teu corpo aguado, sem carinho,
jurou esquecer o amor.

Pode o amor ser esquecido?

Lisbeth Lima, Vasto, 2010.

Meu pedaço


de sertão... em Paris!

Avaria
A onda levou para sempre uma vida inteira.
Ficaram esperando na areia o que sobrou dela.

Lisbeth Lima, Vasto, 2010

De frente


para a rua.

Escuridão
Foi a tua boca que busquei,
na noite escura, quando me senti só.

Foi o teu beijo que me iluminou
até que eu encontrasse a luz do dia,
outra vez de olhos abertos.

Lisbeth Lima, Vasto, 2010.

Mesa


posta.

Egoísta
Queria casa de barro,
sertão todo pra mim:
cacto, açude, lajedo.

Sou egoísta quando sertão.

Lisbeth Lima, Vasto, 2010.

Conto (canto)


de fada.

Luxo

As pérolas verdadeiras, nos brincos,
deixaram há muito o mar.
Mas vieram parar nas orelhas,
conchas,
que em ondas,
ressoam cantigas de lá.

Lisbeth Lima, Vasto, 2010.

É tempo


de dálias.

Luzia

Está vestida de azul.
Na cabeça, uma trança comprida, enfeita.
Está sentada.
Nada vê.
Vestida de azul,
ela não vê a cor do mundo.

Lisbeth Lima, Vasto, 2010.

Estação


de trem.

Linho
O lenço branco já foi sinal:
bordado com as iniciais, dizia adeus.
Enxugava lágrimas, recordava despedida.

Lavado, vincado, mostrando as letras,
ficava na gaveta da cômoda até o retorno.

Saía de lá banhado de alegria.

Lisbeth Lima, Vasto, 2010.

Campo


alheio.

Mãe
Quer um filho
para dar casa, jardim,
medidas.

Quer um filho
para rir com ele,
invadir o mar, a lua,
cortar o vento.

Quer um filho para dividir o que recebeu:
amor tão grande que alcança a outra margem.

Lisbeth Lima, Vasto, 2010.

Namoro


de bicicletas.

Crepúsculo

Espero você chegar
pela porta que já deixei aberta, escancarada.
Pressinto seus passos rápidos,
sempre apressados, ao meu encontro.
Tornar-se-ão outra vez lentos, arrastados,
no breve passeio da tarde.
E à noite, eles dormem.
Já sem pressa, aquecem os meus.

Lisbeth Lima, Vasto, 2010.

Balaio


de saúde na feira.

Chegou setembro! Vou publicar um poema por dia, começando por Vasto, o livro mais recente.

Retomada
Tomei gosto por aquela amizade
que havia perdido.

Tomei gosto como se dela provasse
pela primeira vez.

Lisbeth Lima, Vasto, 2010.